Mundo Digital na palma da mãos
Vivemos, inequivocamente, na Era digital e das redes sociais. Estamos mais conectados do que nunca e, ao mesmo tempo, temos um enorme risco de desconexão.
Prós e contras de ter o mundo na palma das mãos
As redes sociais promovem o contacto regular entre as pessoas e o acesso rápido à informação. Podemos considerar que são atrativas pela sua rapidez e flexibilidade e, muitas vezes, tornam-se difíceis de resistir. Podem ter um papel importante ao nível da interação social e funcionam como um mecanismo útil de trabalho, todavia podem, em simultâneo, representar um desafio na gestão do dia-a-dia.
Quanto mais tempo dedicamos ao mundo digital mais a qualidade da nossa atenção diminui, atualmente muitos de nós somos especialistas a fazer muitas coisas em simultâneo, o que nos leva para um lugar de distração – quase – permanente. Uma investigação de Harvard revela que cerca de metade do tempo em que estamos acordados não estamos no presente, divagamos entre o passado e o futuro. Como tal, é crucial que possamos aprender a treinar o nosso músculo da atenção para voltarmos ao agora.
Através das redes sociais deparamo-nos com convites recorrentes à comparação, esquecendo facilmente que aquilo que as pessoas partilham no digital corresponde apenas a uma percentagem mínima da sua vida. A evidencia científica mostra uma ligação entre o tempo que se passa nas redes e o humor, tal como a ansiedade, afetando todas as pessoas no geral, no entanto com destaque para os mais jovens, revelando sentirem-se mais frustrados, desanimados e menos interessantes enquanto pessoas à medida que vão acedendo apenas a um – aparente – mundo perfeito dos outros.
A adolescência é uma fase do desenvolvimento em que ainda não existe maturidade cognitiva, emocional e psicológica, o que pode ajudar-nos a perceber com mais clareza os desafios desta fase referentes à autoestima ou à regulação emocional. É uma fase em que as vivências são pautadas por muita intensidade e em que é difícil observar outras perspetivas. O grupo de pares passa a ser o centro do mundo, sendo o sentimento de pertença ao grupo determinante, como tal é uma faixa etária especialmente vulnerável à dimensão digital. Atualmente, estamos perante um aumento de perturbações de ansiedade, distúrbios do comportamento alimentar, e de incidência de ideação suicida, tal como de suicídio consumado. É determinante que os educadores estejam mais atentos. Há mudanças significativas a acontecer e de forma célere.
Podemos observar também com frequência, adultos a facultarem os seus telemóveis às crianças, podendo acreditar que estão seguras porque é “só” o telemóvel dos pais, no entanto, vale a pena notar que têm ali, de repente nas suas mãos, um mundo ao seu dispor. Há o risco de expor a criança a temas pouco adequados, o que pode posteriormente impactar nas suas escolhas. É fundamental apostarmos na educação, de forma a, que quando estas crianças se tornarem adolescentes possam aliar a liberdade à responsabilidade, e que possam ter a capacidade de identificar o que é mais seguro e o que oferece um maior nível de perigosidade.
A vida social através de um ecrã é, seguramente, muito distinta da vida social ao vivo. Um “gosto” não tem, de todo, a mesma ressonância emocional que um beijo ou um abraço. A montra digital é pautada por filtros e por um consumo rápido, podendo ser muito enganadora.
Os conteúdos publicados mostram, muitas vezes, uma realidade baseada apenas no Eu ideal e não no Eu real. Não podemos, porém, diabolizar as redes, importa sim aprendermos a utiliza-las de forma equilibrada. A gestão consciente das redes não revela um risco para o nosso bem-estar ou saúde global, todavia o desafio é gerir este equilíbrio. Precisamos identificar e clarificar qual é a nossa intenção ao utilizá-las. Quando a nossa relação com o digital é pautada por uma necessidade de validação externa ou uma partilha exagerada da vida privada, podemos abrir uma janela para uma relação de dependência, podendo ter consequências nocivas na nossa saúde psicológica.
Estratégias para gerir o impacto do digital na nossa vida:
Com os miúdos
- Estar atento à modelagem: se para os pais parar é equivalente a refugiar-se no digital, as crianças podem associar o parar, igualmente, aos aparelhos móveis.
- Criar alternativas fora do âmbito digital: incentivando ao brincar, pegar no lápis e papel, permitir que a criança explore sozinha, ir ao encontro daquilo que são os interesses dela, colocando ao seu dispor brinquedos que sejam do seu agrado.
- Flexibilizar: oferecendo espaço para as crianças serem crianças, desarrumarem, brincarem ao ar livre, de forma, a que não associem apenas o entretenimento ao ecrã.
Para os graúdos
- Treinar a qualidade da atenção: exercitar mais a observação e menos a comparação. Notar que os pensamentos automáticos comparativos podem surgir, aceitando-os, mas não os alimentando. Olhar para os pensamentos com abertura e curiosidade “em que medida é que este pensamento que estou a ter me pode ser útil?”
- Não ficar escravo das métricas do mundo digital: Como humanos temos necessidade de ser reconhecidos e aceites, porém é fundamental não nos confundirmos com o número de seguidores, nem com os gostos que temos. Não é isso que define quem nós somos ou o nosso valor. Importa sim aprendermos a colocar as várias dimensões em patamares complementares que não se substituem uns aos outros.
- Balizar o tempo de acesso: Definir horários para se conectar e desconectar. Desativar as notificações sonoras e visuais bem como deixar o telefone longe do quarto pode fazer toda a diferença na redução do stress e ansiedade.
- Cultivar práticas de higiene mental: Desenvolver práticas que convidem a olhar para dentro, destacando a meditação, o mindfulness e a autocompaixão.
Helena Paixão, Revista Zen Energy edição nº161, Junho 2022